Os curadores do portal É conosco estiveram no último dia 15 (setembro) na Livraria da Vila | SP,
para acompanhar o lançamento do livro “Emergência Climática: O aquecimento global, o
ativismo jovem e a luta por um mundo melhor” do jornalista ambiental Matthew Shirts, em
parceria com o Greenpeace.
O evento começou com um debate entre o autor Matthew Shirts e a ativista Amanda Costa,
jovem embaixadora da ONU e diretora-executiva do Perifa Sustentável e mediação de Leandro
Ramos, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil.
Matthew começou explicando que o processo de criação do livro contou com colaboração dos
editores da Cia das Letras e do Greenpeace e que a ideia era contar de maneira acessível para
os jovens e também, todas as pessoas que queiram entender a história recente da mudança
climática e o aquecimento global, a maior das questões de todos os tempos e a certeza de que
nunca enfrentamos um desafio como esse.
Amanda Costa encantou a plateia com seu entusiasmo e firmeza ao dizer que aos 25 anos, sua
missão é mobilizar a juventude brasileira para criar uma linha de desenvolvimento trazendo
sempre a perspectiva de raça e clima.
“Não dá mais para falar de justiça ambiental sem falar de
justiça racial”
Disse que parte das pessoas ainda pensam que crise climática é “uma parada” de gente “good
vibes”, abraçadoras de árvores, mas a verdade é que essa questão está afetando fortemente
“a quebrada”.
Vindo da Brasilândia, uma das maiores periferias de São Paulo com quase 300 mil habitantes,
Amanda disse que lá, já se sente as consequências da crise climática.
Consciente, falou da questão da fome em que a narrativa do “precisamos parar de comer
carne” já é uma realidade para a população pobre.
Ironizou a discussão da “mobilidade ativa – andar a pé, usar transporte público – pelo fato de
“na quebrada” isso é uma realidade de todos e que o sonho do jovem lá, é ter moto, carro...
então, o debate precisa considerar raça e gênero com um olhar inclusivo.
Falou de seu trabalho de pressionar os tomadores de decisão em eventos como a COP para
que se desenvolvam políticas públicas.
Sobre o ativismo jovem, Matthew disse que trata do assunto desde 2004 e que naquele
tempo, este tema era uma questão científica e técnica. Só recentemente passou a ganhar
impulso e alcance, graças a participação dos jovens do mundo inteiro.
Já a Amanda, sem desmerecer o trabalho e a visibilidade que a ativista Greta Thunberg deu ao
movimento em escala global, lembrou que a jovem sueca é branca, do norte global, que teve
muito apoio de empresários e políticos, potencializando a narrativa dela. E perguntou para
plateia: “quantas jovens indígenas, quilombolas, periféricas temos na nossa nação? O Brasil é o
quarto país que mais mata ambientalistas”
Por que valorizamos os contextos externos e ignoramos o
que acontece no nosso país?
Somos um país com 54% da população negra e a voz que ecoa e repercute é a voz do branco.
Disse que uma das coisas que admira muito na Greta é que ela sempre “passa o microfone”
para que outras pessoas falem, principalmente pessoas indígenas, pretas e do sul global.
Disse que o grande trabalho deles, jovens é lutar pelo direito de viver. Pelo seu presente e pelo
seu futuro.
Nós, além de responsáveis por isso, somos os únicos com
o poder de mudar o curso dos acontecimentos.
A importância da comunicação clara e acessível para que todos possam entender e participar
do combate a emergência climática também foi abordada.
Matthew Shirts que no livro se debruçou sobre a emergência climática, explicando com
detalhes, gráficos e fotografias tudo o que permeia este assunto, disse que foi quando
trabalhou na National Geographic que aprendeu o que sabe sobre o tema e que que quando
colocava a crise climática na matéria de capa, as vendas da revista caiam. Isso o motivou a
escrever de maneira mais acessível e juntamente com o cartunista Caco Galhardo e o jornalista
Alessandro Meiguins, criou um gibi chamado Os Heróis do Clima (2014).
A principal mensagem é: parem de queimar coisas!
Amanda Costa falou que acredita que complicamos as coisas simples. Disse que em 2019 um
amigo a perguntou por que ela não fazia conteúdo para redes sociais e a desafiou: se ela que
acessou esse universo e consegue informação de qualidade nos eventos não compartilhar esse
conteúdo com seus pares “na quebrada”, será egoísta, trabalhando em uma bolha. Hoje ela
tem perfil no Instagram, @souamandacosta onde ela mostra este universo que para ela é
realidade. Para isso, trabalha “as lindezas climáticas” os “crushs climáticos” as “musas
climáticas”, para mostrar que esse espaço pode ser um lugar de solução, se conectando com
pessoas que ainda não estão na linha de frente.
“Hoje estou no TIKTOK fazendo dancinha climática. É o
momento de engajar e não vou aceitar ver seus amigos
morrendo de eco ansiedade”.
O mediador quis saber o que o Brasil precisa fazer hoje para responder a emergência climática
e Matthew lembrou que no resto do mundo o maior problema é gasolina, diesel, gás natural e
carvão e no Brasil, é desmatamento e queimada. Então, o que temos que fazer é parar de
destruir a Amazônia e a Mata Atlântica. Comparou o movimento pelo clima ao abolicionismo
da escravidão onde o que era considerado uma prática normal, não podia continuar
acontecendo.
Amanda falou sobre a importância do engajamento das pessoas para que tenhamos um
congresso e representantes políticos que tenham as questões climáticas em sua pauta de
governo. Citou a plataforma FAROL VERDE que está mapeando as posições dos candidatos em
relação ao tema, para a próximas eleições.
Pensar em perdas e danos.
A ativista acredita que precisamos ter planos de contingência para as crises climáticas nas
áreas mais vulneráveis para mitigar mortes. Citou a fala de uma sobrevivente climática de
enchente que disse que se na sua cidade, os bancos de ônibus fossem como os de avião, que
flutuam, não teria morrido tanta gente naquela enchente.
Sobre a COP 27 que acontecerá em novembro no Egito, apesar de reconhecerem a
importância do evento, os debatedores se mostraram sem grandes expectativas, pelo histórico
de promessas não cumpridas, como por exemplo, os U$100 bilhões prometidos em 2015 e que
ainda não chegaram.
Amanda disse que apesar da alegria de saber que a COP acontecerá num país africano, ficou
decepcionada com o fato de muitas dificuldades estarem sendo colocadas – o custo para
participar da COP é 3 vezes maior do que para se ir ao Egito como turista - e que impede a
participação de gente preta, jovem e de mulheres. Mencionou que na COP, ela esbarra em
políticos e empresários que no Brasil ela não teria acesso de jeito nenhum e que pretende usar
este espaço para cobrar os tomadores de decisão.
No livro “Emergência Climática: O aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um
mundo melhor”, você vai encontrar muita informação sobre os desafios de um acordo global
para combate ao aquecimento, o novo ativismo jovem que tem sido protagonista nesta luta, a
importância do Brasil neste panorama e o que podemos esperar do futuro.
Ficha ténica:
Matthew Shirts é jornalista e escritor de crônicas. Foi editor-chefe da National Geographic
Brasil e do Planeta Sustentável na Editora Abril. Manteve colunas regulares em O Estado de S.
Paulo, na Veja-SP e na BandnewsFM. Criado nos Estados Unidos, apaixonado pela cultura
brasileira e pela questão climática, é um dos criadores do portal Fervura no Clima.
Amanda Costa é ativista climática, fundadora e diretora executiva do Instituto Perifa
Sustentável que busca tornar a discussão das questões do clima mais acessível, é embaixadora
da ONU e tem representado o Brasil nas ultimas COP.
Coleção Tirando de Letra - Selo: Claro Enigma:
A capa é da Mariana Bernd e Julia Paccola, com 112 páginas (13.70 X 19.00 cm). Faixa etária
indicada: a partir de 14 anos. Parte da renda obtida com a venda desse livro será revertida ao
Greenpeace Brasil.
Comentários