Matéria da Revista TIME de 18 de agosto de 1930 tinha como chamada “CATÁSTROFE: Sem pastagens verdes” já dava uma pista do que estava por vir e mencionava a “suposta” inter-relação entre as variações de longo alcance da lua e seu consequente efeito nas marés, na temperatura do oceano e no clima. Os meteorologistas citavam uma combinação desconhecida de forças que regulam todos os climas, para explicar a pior seca da história meteorológica dos EUA.
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Nesta mesma década de 1930, em artigo publicado pelo New York Times, pela primeira vez a Ciência do Clima apareceu nos meios de comunicação.
No Brasil, a Folha de São Paulo abordou o tema do aquecimento global em 1978 numa reportagem a respeito de pesquisa realizada por uma equipe de cientistas da Academia de Ciências dos EUA. O estudo alertava as autoridades e a comunidade científica norte americana para as alterações climáticas provocadas pela alta taxa de emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera planetária.
De lá para cá, muita pesquisa e informações baseadas em ciência e fatos surgiram e todos já deveríamos saber o que é e quais as (muitas) causas das mudanças climáticas, mas sobretudo deveríamos estar agindo para combatê-la. Mas isso não acontece.
O Centro de Mídia de Ciência (SMC) produziu um documento (pdf) publicado em 2012. Ele começa com “breves notas” sobre ciências do clima e mudanças climáticas e avança para os equívocos mais comuns e busca refletir sobre o que o futuro nos reserva. Conforme os níveis de CO2 aumentarem, os riscos associados às mudanças climáticas se tornarão mais sérios.
A BBC emitiu em 2018 orientação interna para seus jornalistas sobre como reportar a mudança do clima incluindo uma “política editorial” e uma “posição” da instituição sobre as mudanças climáticas.
Essa “política editorial” prega entre outras coisas:
A mudança climática existe e é gerada pela humanidade: se a ciência a prova, devemos relatá-la.
Preste atenção ao ‘falso equilíbrio de opiniões”: como se aceita que a mudança climática está acontecendo, não se precisa de um “negacionista” para equilibrar o debate.
O tempo não é clima e devemos olhar para as médias durante um longo período, como 30 anos por exemplo.
Diga “Emergência Climática”, “Crise Climática”
ou “Colapso Climático” ao invés de “Mudança Climática”.
O The Guardian em 2019 atualizou seu “manual de redação” para introduzir termos que descrevem mais acuradamente a crise ambiental que o mundo está enfrentando. A partir de agora, o veículo utilizará termos como “emergência climática”, “crise climática” ou “colapso climático” ao invés do usual “mudança climática”.
A psicóloga social, Sabine Marx, e a comunicóloga, Debika Shome, criaram um documento intitulado “A COMUNICAÇÃO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – um guia para comunicadores e educadores de alguma forma ligados à questão ambiental e que sintetiza uma grande quantidade de trabalhos fruto dos primeiros cinco anos de atividade do CRED (Centro de Pesquisas sobre Decisões Ambientais) da Universidade de Columbia e publicado no Brasil em 2016.
O CRED é um centro de estudos interdisciplinar que realiza pesquisas sobre processos decisórios individuais e coletivos, no contexto de incertezas climáticas e riscos ambientais.
A questão das mudanças climáticas não se resume à forma como indivíduos e coletividades percebem o mundo e tomam decisões pautadas por tais percepções. Se levarmos em conta a forma como consumimos produtos agrícola e bens industrializados, e o fato de o mercado ter o poder de pautar a política e as políticas públicas ligadas ao meio ambiente, não é possível construir estratégias robustas para lidar com o problema sem entender como padrões decisórios, individuais e coletivos, acontecem.
Ao reproduzir e resumir uma pequena parte de seu conteúdo, o “É conosco” pretende contribuir com o urgente debate sobre as mudanças climáticas.
Você pode acessar o documento, créditos e bibliografia clicando no botão:
Por que as pessoas parecem não estar muito preocupadas com as mudanças climáticas?
Pesquisas mostram que a maioria das pessoas não se sente envolvida com as mudanças climáticas. Elas têm consciência de tais mudanças e, eventualmente, até as classificam como algo que inspira preocupação. No entanto, as mudanças climáticas não são identificadas como uma prioridade de curto prazo quando comparadas com temas como a crise econômica ou a necessidade de uma reforma no sistema de saúde.
As pesquisas do CRED mostram que, para que a informação científica sobre o clima seja efetivamente absorvida pelo público, ela deve ser comunicada com linguagens, metáforas e analogias apropriadas; combinada com histórias e narrativas; avivada por meio de imagens visuais e cenários com os quais os leitores têm familiaridade; deve usar informações científicas de forma equilibrada; e ser disseminada por mensageiros confiáveis e em contextos grupais.
Conheça o seu público
A propensão a confirmação de expectativas faz com que as pessoas procurem por informações condizentes com o que elas já pensam, querem ou sentem, levando-as a evitar, recusar ou esquecer informações que as obriguem a mudar de opinião ou alterar seu comportamento.
As pessoas em geral apresentam forte preferência por seus modelos mentais preexistentes a respeito das mudanças climáticas, o que as torna suscetíveis à propensão a confirmação de expectativas, levando-as a interpretar mal os dados científicos.
Consiga a atenção do seu público
É impossível falar de um assunto sem enquadrá-lo de alguma forma. A comunicação das mudanças climáticas precisa garantir que seja escolhido um enquadramento que seja eficaz junto ao seu público-alvo.
O enquadramento organiza as ideias centrais de um assunto. Confere certas dimensões a um tema complexo, dotando-as de maior relevância do que as mesmas dimensões aparentariam ter em uma abordagem alternativa. Quem ou o que pode ser responsável e, em alguns casos, o que deve ser feito.
Pessoas lidam com seus objetivos de diferentes formas.
Ressalte a importância atual da mensagem:
O quadro presente versus o quadro futuro
As pessoas geralmente percebem ameaças imediatas como mais relevantes e de maior urgência do que problemas futuros. No entanto, a ameaça das mudanças climáticas muitas vezes é retratada como um risco do futuro, e não do presente.
Transforme informação científica em experiência concreta
Muitos dos gráficos e tabelas amplamente divulgados, demonstrando dados das mudanças climáticas globais, transformam-se em problema para os comunicadores, porque eles não conseguem inspirar senso de urgência em muitas audiências.
Eles não ajudam a transmitir a profunda preocupação que os cientistas têm; a apreensão de que os esforços para diminuição e adaptação às mudanças climáticas sejam uma necessidade a curto prazo se a humanidade quiser evitar efeitos piores.
A razão para este desligamento pode ser explicada pelo modo como o cérebro funciona, assunto o qual os comunicadores das mudanças climáticas precisam entender para criarem campanhas que inspirem ações efetivas.
Cuidado com o uso excessivo de apelo emocional
Pesquisadores do CRED e de outros centros de pesquisa descobriram que as pessoas, mesmo aquelas que poderiam ser descritas como “cronicamente preocupadas”, têm uma capacidade limitada de se preocuparem com problemas.
Estudiosos se referem a essa capacidade limitada como um conjunto finito de preocupações, e ela possui três componentes principais que se aplicam à questão das mudanças climáticas:
Como as pessoas têm uma capacidade limitada a respeito de quantas questões podem se preocupar de uma só vez, se as preocupações sobre um tipo de risco aumentam, as preocupações com outros riscos podem diminuir.
Estudos mostram que apelar para o sistema emocional pode funcionar para conseguir despertar o interesse de alguém para algum problema a curto prazo, mas que é difícil manter esse nível de interesse.
Estudos também mostram que os efeitos da preocupação podem levar, paradoxalmente, a um entorpecimento emocional. Isso ocorre depois de repetidas exposições a situações emocionalmente desgastantes e é uma reação comumente observada em indivíduos que vivem em zonas de guerra ou lidam com as ameaças de furacão, repetidas vezes, em um curto período.
O que é a tendência à ação única?
Em resposta a situações de incerteza e de risco, os seres humanos tendem a focar a atenção e simplificar a sua tomada de decisões. Respondendo a uma ameaça, tendem a apoiarem-se em uma única ação, mesmo quando ela oferece apenas proteção elementar ou redução do risco, podendo não ser a opção mais eficaz.
As pessoas muitas vezes não tomam nenhuma ação adicional, presumivelmente porque a primeira conseguiu reduzir o seu sentimento de preocupação ou vulnerabilidade. Esse fenômeno é chamado de tendência à ação única.
Fale das incertezas científicas e climáticas
Da mesma maneira que outros ramos da ciência, a ciência climática envolve incertezas científicas. Apesar de cientistas recentemente terem desenvolvido novos e importantes conhecimentos no que diz respeito ao funcionamento do sistema climático, não há 100% de confiança em suas projeções de mudanças climáticas – e nunca haverá. O que eles podem fazer, no entanto, é realizar previsões baseadas nas melhores informações disponíveis, calculando as incertezas que se associam a tais previsões.
Devido à necessidade humana de previsibilidade, a incerteza costuma ser desconfortável. Além disso, a capacidade humana de preparar-se para o futuro é prejudicada pela presença da incerteza. Particularmente quando se aborda temas complexos, como mudança do clima global, é importante encontrar formas efetivas de comunicar informações essencialmente incertas.
Fale de papéis sociais e instituições
Um indivíduo desempenha diversos papéis sociais, cada qual com seu próprio conjunto de metas. Em qualquer situação, um indivíduo pode assumir múltiplas identidades (membro da família, residente de uma cidade, presidente de empresa, pai, membro de uma organização religiosa), mesmo quando os objetivos das diferentes identidades possam entrar em conflito uns com os outros.
Para resolver esses conflitos, o indivíduo tem que decidir qual papel é mais relevante em cada situação.
Decisões ambientais representam um dilema semelhante à tragédia dos comuns, em que o que beneficia um indivíduo pode ou não ser um benefício à sociedade. Em outras palavras, decidir se engajar em comportamentos que ajudem a mitigar as mudanças climáticas – um benefício para a sociedade – pode parecer mais um custo do que um benefício para os indivíduos que se dedicam a eles, pelo menos a curto prazo.
Incentive participações em grupo
Às vezes, comunicadores de mudanças climáticas precisam ir além de oferecer ao público informações, e participar de forma mais ativa no fomento de decisões ambientais dentro de um grupo. Muitas decisões ambientais são decisões grupais, então é vital para os comunicadores entender como as pessoas participam de atividades grupais, públicas ou privadas.
Algumas das variáveis presentes em tais circunstâncias incluem: os relacionamentos entre indivíduos e grupos envolvidos, as metas dos indivíduos e dos grupos, as diferentes maneiras de as pessoas participarem do grupo e as normas sobre como as atividades devem ser executadas.
Facilite a mudança de hábitos.
Comunicadores das mudanças climáticas normalmente terminam suas apresentações encorajando o público a fazer mudanças comportamentais que ajudem a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Nessa seção o estudo aborda como políticos, líderes empresariais e organizações ambientais podem mudar esses comportamentos mais facilmente, aproveitando os efeitos da opção padrão (“default effect”; a tendência humana de se manter na opção que é apresentada inicialmente, ao invés de escolher uma opção alternativa).
A escolha padrão não requer nenhuma ação, é sempre mais fácil, e as pessoas tendem a aceitá-la sem levar em conta se ela seria ou não escolhida caso não fosse a escolha padrão.
Forneça incentivos de curto prazo
Dar às pessoas um incentivo imediato, se possível, também faz o comportamento mudar mais facilmente.
Mudanças Climáticas:
a Percepção dos Brasileiros
O IBOPE Inteligência realizou uma pesquisa quantitativa (24|09 a 16|10) com uma amostra de 2.600 entrevistas, representativa da população brasileira com 18 anos ou mais em todas as regiões do Brasil.
Alguns insights:
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Apesar da importância dada à questão do aquecimento global e da preocupação com o meio ambiente, apenas 25% declaram saber muito sobre o assunto.
92% dos brasileiros consideram que o aquecimento global está acontecendo.
77% dos brasileiros acreditam que as causas do aquecimento global seja principalmente pela ação humana.
88% % dos brasileiros acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito as gerações futuras.
Quem pode contribuir para resolver o problema das mudanças climáticas?
35% Os governos - 32% Empresas e Indústrias – (Apenas)24% Os cidadãos.
Veja a pesquisa aqui.
FONTES:
REVISTA TIME – 1930: http://content.time.com/time/subscriber/article/0,33009,789206,00.html
FONTE O (ECO) – FOLHA DE SÃO PAULO:https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2020/09/aquecimento-global-apareceu-na-folha-pela-primeira-vez-em-1978.shtml
SMC: http://www.sciencemediacentre.org/wp-content/uploads/2012/09/SMC-Briefing-Notes-Climate-Change.pdf
FONTE O (ECO): https://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/a-comunicacao-das-mudancas-no-clima-finalmente-um-avanco/
FONTE - CLIMAINFO: http://climainfo.org.br/2018/09/10/bbc-emite-orientacao-interna-sobre-como-reportar-a-mudanca-do-clima/
GUIA PARA CIENTISTAS (pdf): http://cred.columbia.edu/files/2016/09/CRED_2016_Comunicacao_das_mudancas_climatcas.pdf
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