Ética, Estética e Sustentabilidade
- É conosco
- 30 de mar.
- 3 min de leitura

Sete anos atrás, em reunião com a designer e escritora Valéria Midena, teve início um projeto que se transformou em uma série a ser coproduzida com a TV Cultura, intitulada “Sustentável Beleza”.
Na produtora Conteúdos Diversos, nossos projetos sempre trafegam em múltiplas plataformas, e enquanto estamos captando recursos para a viabilização do programa na TV, o “Sustentável Beleza” já estreia no formato “evento presencial”, em parceria com a Unibes Cultural (R.Oscar Freire, 2.500), no próximo dia 10 de abril, às 19h00.
Uma conversa com pensadores
Nesse evento, Valéria conduzirá um diálogo essencial para os tempos atuais com Annelise Vendramini, uma das principais especialistas em finanças sustentáveis no Brasil - EASP - FGV, e Gerson de Oliveira, designer que com sua sócia, Luciana Martins, lidera há 30 anos o estúdio ,ovo, reconhecido por sua forte identidade no desenho de móveis, objetos e utilitários que dialogam com o universo da arte e da arquitetura.
Com a crescente demanda por soluções sustentáveis não apenas no design, mas em todas as áreas da criação humana, “Sustentável Beleza” oferece uma reflexão profunda sobre como unir estética e ética de forma inovadora e responsável, com apoio institucional do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.
Uma provocação, um texto e uma realização
Naquela nossa conversa de 2018, o portal É conosco – ainda em estágio embrionário – fez uma provocação à Valéria:
De que maneira seu conhecimento e seu olhar poderiam inspirar pessoas que desejam ser agentes de transformação para um mundo mais sustentável? Qual seria o ponto de contato entre Beleza – o tema você estuda e sobre o qual mais escreve – e Sustentabilidade?
Valéria respondeu com o texto que reproduzimos aqui. Boa leitura!
Ética, Beleza e Sustentabilidade por Valéria Midena
A noção de Beleza mudou inúmeras vezes ao longo da História. Na Grécia Antiga, pertencia ao âmbito das ideias; já na Idade Média, adquiriu dimensão simbólica, associada ao mundo de Deus; no Renascimento, o resgate de ideais clássicos colocou a Beleza no plano da racionalidade e da harmonia de proporções; e na Era Moderna, pós-revolução industrial, a Beleza passou a ter um caráter subjetivo, ligada aos olhos de quem vê.
Muito antes de sua concepção cultural, no entanto, a Beleza esteve sempre intrinsecamente ligada à vida. As plumagens das aves, os grandes galhos dos veados, as cores de alguns insetos e os cantos dos pássaros são características determinantes para o acasalamento dentro das espécies. Há peixes que se iluminam para atrair suas parceiras; plantas usam cores e aromas para atrair insetos e garantir sua polinização. A Beleza sempre foi, na verdade, o mais eficiente conector entre os seres – e sem a resposta instintiva a ela ou à competição que dela resulta, a vida no planeta Terra teria sido muito diferente.
O conceito de Beleza, então, seria inato e não uma construção cultural? Segundo Edgar Morin, antropólogo e filósofo francês, "somos seres 100% biológicos e 100% culturais". Enquanto plantas e animais são rigidamente controlados por sua biologia, o comportamento humano é em grande parte determinado pela cultura – um sistema autônomo de símbolos e valores que se origina de uma base biológica mas se afasta indefinidamente dela. Portanto, para nós, seres humanos, o conceito de Beleza é tão inato quanto cultural.
À ideia de Beleza costumamos associar, em um primeiro momento, atributos formais. Mas se Belo é tudo que nos agrada e nos encanta, despertando em nós admiração e sensação de prazer, é possível encontrar Beleza em seres e objetos tanto quanto em palavras, acontecimentos, ideias, na criatividade, na inteligência e até mesmo em gestos, atitudes e condutas. E quando percebida nessas últimas, a Beleza se mostra resultante não de juízos estéticos ou de razões biológicas, mas sim de valores – estética e ética se entrelaçam, alcançando o sublime.
Se entendermos ética segundo sua tradição grega (uma disciplina que fornece diretrizes para que todos possamos desfrutar de uma vida plena), os valores que a constituem são universais. Ora, falar de erradicação de pobreza, água potável e saneamento, energia acessível e limpa, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, paz e justiça, entre tantos outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – é falar justamente desses valores, que transcendem o tempo, fronteiras, culturas, origens e religiões.
E assim chego ao ponto de contato que buscava, e que deve, daqui por diante, orientar a produção de meus textos para este portal: falar de Sustentabilidade é, em essência, falar de ética, e de ética em sua mais pura concepção – aquela que traduz a Beleza e a plenitude da vivência humana. Espero ter a companhia de vocês nesta bela jornada!
Valéria Midena - 2018
Comentários