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Conexão com a água

Conhecemos a professora Vania Tadeu* num evento da Virada Sustentável no CEU Casa Blanca, na Vila das Belezas, periferia de São Paulo, onde a convite do João Garcia, bibliotecário ligado a coordenação de projetos culturais, fizemos uma sessão de cinema seguida de debate junto à adolescentes, abordando a questão da sustentabilidade.


Ela nos falou de uma iniciativa de limpeza da represa Guarapiranga da qual participa, e nos conectou com o Sérgio Moraes, uma das lideranças do trabalho voluntário que acontece na Riviera Paulista, um bairro aconchegante, com muito verde, próximo ao Parque Ecológico Guarapiranga em São Paulo.


Riviera Paulista – Represa Guarapiranga, São Paulo

Moraes recebeu o Portal É conosco para um “café mineiro”, e depois seguimos para uma visita à represa em companhia de outra voluntária, a Geovana Syra, também moradora da região.

Café mineiro - Sérgio Moraes, Sérgio Lopes (É conosco) e Geovana Syra

Os moradores, incomodados com a sujeira no bairro e o perigo da contaminação da represa, se juntaram para fazer mutirões de limpeza, que acontecem desde 2018. O grupo conta com mais de 70 colaboradores, sendo que nem sempre todos participam das ações, mas de modo geral, há uma grande conexão entre eles, que têm o mesmo objetivo: “manter a casa limpa”. São bastante organizados, se conectam por whatsapp e mantêm perfil nas redes sociais. Em quatro anos o grupo @projetolimpezanarepresariviera já coletou mais de 60 toneladas de lixo, em encontros que acontecem a cada 15 dias na “prainha”.


“Existe um problema de zeladoria e de consciência do cidadão em relação ao lixo que descartamos”

Sérgio Moraes – projeto Limpeza na Represa Riviera


O destino do lixo jogado nas ruas, ou mesmo aquele colocado na porta de casa, depende do serviço de limpeza que, por diversos motivos muitas vezes atrasa a coleta, ou passa depois de uma chuva forte. Quando isso acontece, ao chegarem para realizar a coleta, os resíduos já terão sido levados pela chuva, entrado nos bueiros e depois lançados nos rios que desaguam na represa.


Margens da Guarapiranga – Riviera Paulista


A falta de consciência das pessoas no que tange à sua relação com o descarte de seus próprios resíduos é provavelmente a maior causa do acúmulo de lixo no nosso entorno. “Então com nossos mutirões buscamos aliviar um pouco essa situação”, comenta Sergio Moraes. Esta questão piora com aquilo que eles chamam de “lixo do final de semana”: a represa tem ampla frequência de famílias, casais e pescadores, que deixam aqui um grande o volume de resíduos (embalagens de alimentos, garrafas e latinhas), que não são levados de volta por quem os traz.

Lixo do final de semana - Riviera Paulista


Além da coleta, o grupo faz um trabalho de conscientização, que começa com as crianças que participam dos mutirões com os pais e chega aos frequentadores do local, pelo exemplo dos voluntários e alguns gentis “puxões de orelha”.


Para estas ações, comerciantes locais colaboram cedendo rastelos, luvas e sacos biodegradáveis para a coleta, e algumas vezes as ações contam com plantios de árvores nas margens.


Voluntários do Projeto Limpeza na Represa Riviera


Difícil convencer as pessoas que “não estão nem aí”


Já existem diversas iniciativas no entorno da represa com o mesmo objetivo, mas entendem que o grande movimento será feito pelas novas gerações.


“As pessoas mais velhas viveram um tempo em que esse problema não era tão visível, então fica bem difícil convencer as pessoas que “não estão nem aí”, com um discurso de que o planeta é nosso, precisamos cuidar dele”, diz Sérgio.


Voluntários do Projeto Limpeza na Represa Riviera


Soma-se ao problema o crescimento desordenado da cidade

A região tem diversos loteamentos clandestinos que geram esgoto e lixo que não passam por tratamento ou serviço de coleta.


O crescimento desordenado da cidade, precedido por desmatamento, também contribui para agravar o problema, raciocina. “Uma vez que uma área é desmatada, as pessoas vão construindo e produzindo mais lixo que acaba nas margens da represa”.


Isso fica evidente no verão, quando em dias de calor o cheiro de esgoto domina a região. Para ele, isso é um contrassenso. “A Guarapiranga na Zona Sul de São Paulo, é uma das represas mais importantes pela sua proximidade com a capital, não poderia estar em estado de abandono por parte do poder público”.

Sérgio Moraes nos lembra que o Sistema Guarapiranga é um reservatório composto por tres represas (Guarapiranga, Capivari e Billings), responsáveis pelo abastecimento de água potável para mais de 4,9 milhões de pessoas na Região Metropolitana, chegando a atender 6 milhões de pessoas na última crise hídrica (2014).


Hoje o grupo conta com apoio da Sabesp que através de empresa terceirizada recolhe o material coletado para um destino correto. Os mais céticos dizem que esse trabalho não adianta nada e as pessoas não vão mudar, mas Sérgio e seu grupo não desanimam. Ele, como nós, acredita que a mudança tem que ser feita e que precisamos entender que, se cada um não fizer sua parte, em breve o planeta terra dará lugar ao planeta lixo.


Final de limpeza e árvore de Natal feita com garrafas “pet” recolhidas na Riviera


Fica aqui nossa admiração por esse grupo de cidadãos que têm feito um trabalho voluntário extenso e responsável, e nossa indignação com o poder público, que tem feito tão pouco nessa área da cidade.

Esse encontro nos leva a refletir que a vida vai ganhando sentido especial quando encontramos cidadãos comuns atuando em prol do seu entorno, melhorando sua qualidade de vida e, de quebra, a qualidade de vida de todos nós, uma vez que respiramos o mesmo ar, tomamos a mesma água.

Voluntários e lideranças celebram mais uma jornada do projeto limpeza na represa Riviera

 




 

*A professora Vania Tadeu leciona na E E. Prof. Caran Aparecido Gonçalves da região Sul 2 e na EMEF Cel. Luiz Tenório de Brito da DRE Campo Limpo.

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