Dois amigos hippie’s, Ben Cohen e Jerry Greenfield, em 1978 abriram sua sorveteria com ajuda de um terceiro hippie, o advogado ativista Jeff Furman, em um antigo posto de gasolina em Burlington, Vermont.
Fizeram sucesso durante o verão, mas com a chegada do inverno tiveram que repensar o modelo de negócio e passaram a embalar o sorvete em potes médios para restaurantes e distribuidores independentes de sorvete começaram a vender Ben & Jerry's em grandes supermercados em Boston.
Em 1984, a Häagen-Dazs (Pillsbury) tentou limitar a distribuição dos produtos Ben & Jerry's em Boston, levando os sócios a abrirem um processo e criar a campanha "What's the Doughboy Afraid Of?" onde se um cliente enviasse US $ 10, ele ganharia um adesivo de para-choque e uma camiseta com slogan: "Do que o Doughboy tem medo?" tendo como patrocinador o “Fundo de Defesa Legal Ben & Jerry”.
Colocar o cliente como “ativista da causa"
A estratégia funcionou e o processo terminou em acordo fora dos tribunais e como num conto de Davi e Golias, venceram a multinacional.
Ben & Jerry’s foi pioneira em estabelecer políticas de responsabilidade socioambiental em sua estratégia, ainda nos anos 80 já era uma empresa ESG e o posicionamento sustentável se tornou símbolo de uma contracultura corporativa nos Estados Unidos.
Por ocasião da Cúpula do Clima da ONU em 2015 – Paris, a Ben & Jerry's criou uma campanha publicitária encorajando seus fãs em mais de 35 países a assinarem a petição que conclamava os líderes mundiais a manterem o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius, mudando a matriz energética para energia 100% limpa até 2050.
Join The Climate Movement! | Ben & Jerry's
Hoje, Ben & Jerry’s pertence a Unilever, como uma das marcas que possuem uma causa na sua estratégia, e tiveram um crescimento maior em 2019 do que as marcas tradicionais.
Uma nova maneira de fazer negócios, que entrega crescimento enquanto serve a sociedade e o planeta.
O Instituto Akatu, uma organização sem fins lucrativos, pioneira em ações para sensibilização, mobilização e engajamento da sociedade para o consumo consciente, acredita que esta postura empodera o consumidor que entende que o ato de consumir um produto ou serviço faz parte de um contexto que envolve produção, compra, uso e descarte e traz consequências positivas ou negativas para si próprio, o meio ambiente, a economia e a sociedade.
Como saber se estamos diante de uma sincera iniciativa hippie ou de um “greenwashing” promovido pelo capitalismo tradicional?
Melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
Se estamos no meio de uma transição de modelos econômicos e de causas, as empresas tradicionais precisam “correr atrás” pois algumas startups já nascem como negócios de impacto socioambiental.
Fundado em 1972, o “Business Roundtable”, uma associação de diretores executivos das
principais empresas dos Estados Unidos que trabalham para promover uma economia americana próspera e oportunidades ampliadas para todos os americanos.
Em 2008 lançou seu primeiro relatório de sustentabilidade, “'VER' - Mudança, documentando como as empresas líderes da América estão definindo metas desafiadoras para melhoria ambiental e social, enquanto aumentam o valor do negócio.
Em 2019, a Business Roundtable lançou um manifesto assinado por 181 reafirmando o compromisso de suas companhias com todos os seus stakeholders.
Segundo o documento, o propósito de responsabilidade corporativa deve ser mais importante que o próprio lucro.
Na lista dos compromissos, uma pista da transformação que o mundo dos negócios está vivendo: “entregar valor aos clientes; investir nos funcionários; lidar de forma justa e ética com fornecedores e apoiar as comunidades.”
No Brasil, CEOs e empresários vem defendendo o combate às mudanças climáticas e discutindo a criação de diretorias voltadas a iniciativas de responsabilidade ESG.
Grupos de empresas enviaram cartas ao vice-presidente da república onde defendem uma agenda para o desenvolvimento sustentável, enquanto ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central estão cobrando ações para redução do desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
A virada de jogo aconteceu quando a maior gestora de investimentos do mundo, BlackRock, com cerca de R$ 36,5 trilhões em ativos anunciou que deixaria de investir em setores com alta pegada de carbono, como a indústria de carvão, passando a focar recursos para segmentos mais sustentáveis.
Um bom mapa para o novo caminho das empresas, são nos ODS, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma proposta da ONU para que seus países membros abracem uma nova agenda de desenvolvimento sustentável para os próximos, (agora 9) anos - Agenda 2030.
Em 2015 a ONU preconizava que setor privado tem um papel essencial nesse processo como grande detentor do poder econômico, propulsor de inovações e tecnologias, influenciador e engajador dos mais diversos públicos – governos, fornecedores, colaboradores e consumidores.
Assim como os ODS são integrados, não existe uma letra do ESG que seja mais importante do que a outra e não se trata de ser ou não ser ESG.
Ainda há muito a ser feito para que os resultados de longo prazo em termos de sustentabilidade sejam alcançados, mas não importa em que estágio as empresas estão neste movimento, o comportamento dos consumidores e o engajamento dos investidores estão levando todas a se reinventarem e quem não se adaptar a este novo cenário ficará para trás.
Se já ficou claro que a sustentabilidade deve fazer parte da estratégia de negócio, onde está o “gargalo”?
Segundo o colunista da Folha de São Paulo Rodrigo Tavares, professor de Sustainable Finance na Nova School of Business and Economics, faltam especialistas em ESG no Brasil. Ele afirma que diversos estudos têm destacado que tanto nos mercados financeiro e corporativo, existe falta de conhecimento técnico sobre sustentabilidade.
Rodrigo analisa que os fundos ESG, lançados nos últimos dois anos no Brasil, estão tendo dificuldades de captação e a maioria não deverá atingir os requisitos mínimos de um novo padrão global para definir o que são fundos sustentáveis ou fundos responsáveis.
Com poucos especialistas em ESG o resultado é uma supervalorização do conhecimento de poucos —na imprensa e no mercado - deixando um tema complexo com baixa pluralidade de pensamento e representatividade.
Menciona matéria do Financial Times que cita incentivos a escolas de negócios para integrarem tópicos ESG em cursos básicos ensinando sustentabilidade de uma forma que ajude a mudar o capitalismo para um modelo econômico mais regenerativo e inclusivo.
CHECK LIST ESG
Para saber se sua empresa é saudável e lucrativa financeiramente e consciente a nível social e ambiental, responder a estas perguntas mostrará o tamanho do desafio:
Por que você está neste negócio
Quem é você como empresa
Qual é seu impacto no mundo
Como você alinha o modelo de negócios com as necessidades da sociedade
O que você relata,
Como você envolve os Stakeholders
Para concluir, a Ben&Jerry,, pioneira em estabelecer políticas de responsabilidade socioambiental em sua estratégia, informa em sua página na web que hoje é uma subsidiária integral da Unilever, e que seu Conselho de Administração independente é de fato, muito independente e encarregado de proteger e defender a integridade e valores da marca, sem esquecer a qualidade do produto.
FONTES:
BEN & JERRY’S: https://www.benjerry.com/whats-new/2016/6-almost-scandals
INSTITO AKATU: https://akatu.org.br/
BUSINESS ROUNDTABLE: https://www.businessroundtable.org/
FOLHA DE SÃO PAULO: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rodrigo-tavares/2021/05/faltam-especialistas-em-esg-no-brasil.shtml
FINANCIAL TIMES: https://www.ft.com/content/64211d86-ef52-4cf5-ba38-0fe64e18b58f
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