Detroit é uma cidade que nos anos 50 era a gigante mundial da indústria automobilística e como outras cidades devastadas pela crise financeira de 2008, se transformou em ruína urbana.
Mas essa é uma história que, através da agricultura urbana e empreendedorismo alimentar, vem se transformando no melhor exemplo de segurança alimentar e desenvolvimento sustentável.
Já em 2014, circulavam notícias de que em diversas localidades, os moradores estavam recuperando terrenos abandonados e plantando árvores, hortaliças e flores.
A agricultura urbana é praticada por 800 milhões de pessoas no mundo todo, contribuindo com cerca de 20% de toda a produção agrícola do planeta, segundo relatórios da ONU.
HORTAS COMUNITÁRIAS REFORÇAM O TECIDO SOCIAL
As hortas comunitárias em centros urbanos, fortalecem o tecido social das comunidades, e criam oportunidades econômicas em bairros vulneráveis, a partir de comida saudável, acessível e culturalmente apropriada.
EXEMPLO A SER SEGUIDO
Rodrigo Pollacow, presidente da Associação Cigarras Viva nos apresentou a horta comunitária criada em uma iniciativa coletiva e que tem por objetivo gerar interação e consciência ambiental na comunidade do bairro localizado em São Sebastião, litoral norte do Estado de São Paulo.
A quadra de esportes, um espaço público que estava abandonado e deteriorando foi revitalizado quando a Prefeitura atendeu à solicitação da Associação, que assumiu o compromisso de fazer a zeladoria do local.
Além da quadra, os voluntários criaram a horta e uma biblioteca comunitária ao lado de um parquinho com brinquedos e cerca de segurança para as crianças.
O projeto está próximo à praia e Rodrigo constata que a iniciativa vem ganhando adesão e interesse não só dos moradores, mas também dos proprietários que frequentam a região em férias e finais de semana.
O plantio de mudas, compostagem das podas, folhas e grama da área verde, tem contribuído para o engajamento e integração entre as pessoas que descobrem interesses comuns além da educação ambiental e geram propostas de melhorias no bairro.
A biblioteca foi montada com o aproveitamento de duas geladeiras que seriam descartadas e ganharam vida nova, abrigando livros doados pelos associados.
Rodrigo começou seu ativismo há aproximadamente seis anos, quando incomodado com o lixo na praia que frequenta desde criança, começou a fazer coleta voluntária com sua filha e uma amiga, Tatiana Araújo.
“UMA COISA VAI LEVANDO A OUTRA... COMECEI CATANDO LIXO NA PRAIA COM MINHA FILHA E DE REPENTE ESTAMOS COM UMA ASSOCIAÇÃO DE BAIRRO MONTADA, COM AS PESSOAS INTERAGINDO PELO BEM COMUM”
Rodrigo Pollacow – Ativista - Associação Cigarras Viva
A iniciativa foi crescendo, começaram a estender a coleta de resíduos para outras praias, limpeza de mangues e despertou neles o desejo de serem cada vez mais sustentáveis.
A Cigarras Viva se formalizou como associação de bairro para ter segurança jurídica e ganhar voz junto ao poder público, e tem se envolvido com outras iniciativas e associações como o Instituto Lixo Zero.
As parcerias vêm trazendo “know how” de sustentabilidade para o grupo que faz coleta seletiva, coleta de lixo orgânico, compostagem e colocou coletores, lixeira, bituqueira e sinalizações de conscientização para os frequentadores em toda praia.
As comunicações de interesse geral são encaminhadas por um grupo de Whatsapp compartilhado com os membros e pela página do Facebook @PraiaDasCigarras.
Rodrigo ressaltou que a atuação da Associação é coletiva e conta com o engajamento de muitas pessoas, mas ficamos curiosos em saber um pouco mais de sua história para entender o perfil do ativista.
Foi a busca por melhor qualidade de vida que motivou o ativista a se mudar de São Paulo, onde atuava há mais de 20 anos na área de bares e restaurantes; o contato com a natureza foi ampliando seu olhar para a sustentabilidade.
O CONTATO COM A NATUREZA AMPLIA O OLHAR PARA A SUSTENTABILIDADE
Na busca por uma atividade compatível com este olhar, empreendeu com sua amiga Tatiana o negócio de cogumelos orgânicos, produzindo shimeji branco e cinza e pretendem ampliar a produção para outros tipos.
Cercado pela Mata Atlântica e em contato com a terra, a produção sustentável da dupla não gera poluentes e respeita os ciclos da natureza.
Rodrigo nos levou para conhecer sua produção de shimeji e lá encontramos sua sócia que também nos contou sua história de transformação.
Tatiana Araújo se apresentou como empreendedora social, formada em medicina veterinária, tendo trabalhado por doze anos em indústrias farmacêuticas multinacionais na área de negócios.
Em determinado momento, sentiu que aquela vida não estava alinhada com sua visão de mundo e a busca por um propósito maior desencadeou um processo de transformação pessoal à partir da sua conexão com o budismo, onde o contato com pessoas que não consumiam carne se chocou com sua atividade de marketing veterinário para criadores de gado.
Acredita que indo para São Sebastião, onde tinha uma grande referência afetiva através da casa de seus pais, se reconectou com sua essência, mas ao mesmo tempo ficou preocupada com o modelo de desenvolvimento da cidade que já havia sido referência na área de reciclagem e com a quantidade de lixo que encontrou nas praias.
DA PREOCUPAÇÃO À AÇÃO
Montou a Flow Sustentável com objetivo de trazer soluções para contribuir com o desenvolvimento sustentável da região e passou a fazer palestras, oficinas e eventos sobre compostagem de resíduos orgânicos, desenvolveu parceria para tratar de reciclagem de bitucas num programa que hoje atende São Sebastião, Ilha Bela, Ubatuba e Caraguatatuba.
A parceria com o Instituto Lixo Zero surgiu pela consciência de que não dá para viver gerando tanto lixo e a necessidade de repensar o consumo para gerar menos lixo.
Foi fazendo limpeza de resíduos na praia que conheceu o Rodrigo e juntos desenvolveram mutirões numa parceria que só cresce.
Unindo esforços, recursos e expertises, a dupla com outros dois parceiros viu no cogumelo uma fonte de proteína que substitui a carne e uma oportunidade de negócio sustentável e agroecológico.
A PROPOSTA É UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL SEM IMPACTO AMBIENTAL
Seus olhos brilham ao falar do fantástico “reino funghi” que está presente nas nossas vidas em diversas formas, muito importantes na decomposição e reciclagem dos resíduos orgânicos para a terra. A compostagem funciona devido a presença dos fungos.
O movimento pessoal trouxe realização. Sair da zona de conforto, aberta para algo novo, foi transformador e lhe mostrou que a existência no mundo é muito mais do que ganhar dinheiro e a conexão com a natureza criou energia para essa nova caminhada que está só começando.
O MUNDO PRECISA DE PESSOAS QUE TENHAM ESSA CORAGEM E ESSA VALENTIA PARA MUDAR AQUILO QUE NÃO NOS SERVE MAIS.
Rodrigo e Tatiana se jogaram nessa possibilidade de estar mais próximo da natureza e apesar do processo não ser fácil acreditam que a persistir e acreditar que a vida não precisa ser como se apresenta e não é preciso achar que o mundo é assim mesmo, com sujeira na praia, animais morrendo por causa do nosso lixo, florestas sendo queimadas por ganância e nos alimentando de forma insustentável.
“É preciso repensar o nosso modo de viver e agir”
Tatiana Araújo - Empreendedora social
Confira a seguir: José Valverde – (ex) Coordenador CODEAGRO Secretaria de Agricultura. Fala sobre o desafio de produzir alimentos nos grandes centros através da agricultura urbana e Peri Urbana. A produção desses alimentos gera desenvolvimento e bem estar para a sociedade.
SAIBA MAIS SOBRE O TEMA:
12 Passos para começar uma horta comunitária – Ciclo Vivo: https://ciclovivo.com.br/mao-na-massa/horta/12-passos-para-comecar-uma-horta-comunitaria/
TED FoodLab Detroit - Devita Davison: https://www.ted.com/talks/devita_davison_how_urban_agriculture_is_transforming_detroit?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare
KAETÉ COGUMELOS: https://www.instagram.com/kaete.cogumelos/
FLOW SUSTENTÁVEL: http://www.flowsustentavel.com.br/
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