Quando você vai às compras ou pede entrega de comida, provavelmente já repara no material do qual é feito a embalagem do produto.
Sabemos que isso é necessário, porque somos, nós, consumidores, que vamos fazer com que diminua a poluição do solo e dos mares, causada principalmente pelo excesso de plástico que é descartado todos os dias.
Só para ter ideia do estrago, observe esses números, compilados pela organização Fundo Mundial para a Natureza ou World Wide Fund for Nature (WWF):
160 milhões de toneladas de plástico
já foram depositadas nos oceanos de todo o mundo desde 1950. E há estimativas que indicam que a poluição de plástico nos ecossistemas terrestres pode ser pelo menos quatro vezes maior do que nos oceanos.
270 espécies de animais
foram vítimas de estrangulamento por plásticos jogados na natureza, incluindo mamíferos, répteis, pássaros e peixes. A ingestão de plástico foi registrada em 240 espécies. Esses animais desenvolvem úlceras e bloqueios digestivos que levam à morte na maioria dos casos.
US$ 8 bilhões é a conta do prejuízo
Prejuízo para a economia global em razão do excesso de plástico jogado nos oceanos. O levantamento, feito pelo WWF com base em dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta que os principais setores atingidos são o pesqueiro, o comércio marítimo e o turismo.
E sabe o que é mais alarmante? Mesmo quando achamos que estamos evoluindo no caminho certo, descobrimos que há muito mais a fazer para acertar a rota.
De acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo. Em 2019, produziu 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas.
As perdas, dentro das usinas de reciclagem, acontecem por diversos motivos:
1) Os plásticos chegam sujos demais ou contaminados com outros materiais;
2) São multicamadas;
3) Não representarem valor significativo.
Assim, o destino de 7,7 milhões de toneladas de plástico acabam sendo os aterros sanitários.
E outros 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartados de cara de forma irregular, sem qualquer tipo de tratamento, em lixões a céu aberto.
E em 2020, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), o volume de plástico descartado no Brasil ainda aumentou: foram 13,3 milhões de toneladas – 15% a mais do que no ano anterior.
Outra estatística levantada pela WWF é que aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados depois do ano 2000. Ou seja, há apenas 20 anos.
No entanto, 75% de todo o plástico produzido já foi descartado. Precisamos achar um destino para todo esse material (pelo menos a parte que ainda não chegou aos lixões nem aos oceanos).
Uma iniciativa que usa tanto plástico reciclado pós consumo (PCR) quanto polietileno verde (plástico produzido a partir da cana-de-açúcar) é de empresas como a C-Pack, que fabrica embalagens sustentáveis para marcas como L’Oreal, Libbs, L’Occitane Au Brésil, Mary Kay, Grupo Boticário, Avon e Johnson & Johnson.
Com a certificação ESG Lixo Zero, a empresa informa ter fabricado em 2020 mais de 34 milhões de bisnagas com plástico de polietileno verde, capturando, no processo, 1.227 toneladas de CO² da atmosfera.
Juliana de Mathia Campanhão, coordenadora de marketing da C-Pack, disse ao site Econosco:
“O polietileno captura o gás carbônico da atmosfera durante a sua produção, colaborando para a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa e gerando uma pegada negativa”,
Embora o que desejamos para o futuro seja uma transformação na maneira de comprar e consumir, essa é uma das soluções possíveis no momento. Mas o passo seguinte, depois de aproveitarmos o plástico já fabricado, talvez seja parar de fabricá-lo e passar a usar embalagens que se desfaçam na natureza sem causar tantos danos.
Assim, quando for necessário comprar um produto embalado, vale ficar de olho nos materiais envolvidos, no destino que será dado à embalagem e onde ela vai parar depois de descartada.
Digamos que você compre um doce na padaria, e ele seja colocado em uma caixinha de isopor. Ao chegar em casa, você come o doce. E dez minutos depois a caixa de isopor está no lixo.
Ao longo da semana, será levado ao aterro (ou lixão), juntamente com outras milhões de caixinhas de isopor descartadas todos os dias. Há alguma coisa errada, concorda? Esse material, que foi usado por dez minutos, levará de 400 a 450 anos para se decompor.
Biodegradáveis - Uma opção que ganha força no mercado
A embalagem biodegradável, embora não seja a solução ideal, ajuda o lixo a ser menos nocivo aos ecossistemas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece que, para uma embalagem ser considerada biodegradável ela deve ser dotada da capacidade de se “quebrar” por microrganismos, como fungos e bactérias, em pedacinhos menores que dois milímetros.
E o processo não pode demorar mais do que 90 dias.
Têm aparecido bons exemplos de embalagens feitas de papelão e de resíduos vegetais, como o bagaço da cana.
Para o comerciante, ainda saem mais caras do que o nefasto isopor. Mas o ganho vem no longo prazo.
No primeiro momento, pode surgir em forma de fidelização do cliente, hoje mais antenado do que nunca sobre as questões ecológicas.
Em pouco tempo, queremos crer que aqueles que estiverem do lado dos poluidores vão começar a ser descartados do jogo.
Se posso comprar de alguém que pensa na vida, por que vou comprar de quem só quer o lucro imediato, já que há tantas opções de lojas e restaurantes?
O site Econosco conversou também, para a elaboração deste artigo, com um comerciante que resolveu substituir definitivamente o isopor pelas embalagens feitas de bagaço de cana.
Benjamin Couri, proprietário do restaurante The Taco Shop, afirma que o estabelecimento começou a usar as embalagens biodegradáveis no início da pandemia de covid-19, em março de 2020.
Hoje, gasta o dobro com elas do que gastava com o isopor. O custo fica entre R$ 4 mil e R$ 6 mil mensais. Cada embalagem, a depender do tamanho, sai entre R$ 2 e R$ 3. Mas afirma que ganho é institucional. “Vários clientes elogiaram a nossa iniciativa.”
É isso. Se o seu restaurante ou padaria preferida ainda embala os alimentos em isopor, está na hora de mandar mensagens, chamar a atenção deles nas redes sociais e apontar que isso já é anacrônico, antiecológico.
Novos tempos pedem consciência ambiental.
Enquanto o mundo não muda, o jeito é tentar consumir de maneira a gerar o menor descarte possível, pelo menos procurando comprar produtos a granel e levar suas ecobags ao supermercado, para recusar com convicção o plástico.
Vamos na direção certa, uma sacolinha por vez.
O texto PEQUENAS EMBALAGENS, GRANDES PROBLEMAS, é da colaboradora Lúcia Helena de Camargo que é jornalista há 30 anos. Formada pela PUC-SP, trabalhou na Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário do Comércio, entre outras publicações. Editou a revista Becicle, publicação sobre ciclismo, saúde e meio-ambiente. Nos últimos anos tem atuado como criadora e editora de conteúdos, principalmente nas áreas de sustentabilidade, diversidade e equidade de gêneros.
SERVIÇO
Impacto das embalagens - Se você tem um negócio, que tal pensar sobre o impacto ambiental das embalagens usadas? Aqui, algumas ideias:
Certificação Lixo Zero - Quer certificar sua empresa? Entenda como:
Pegada ecológica - Você pode calcular a sua:
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